sexta-feira, 4 de junho de 2010

Capítulo V
O Grande Dilúvio – (A Inundação)

(Mishomis e Nokomis usam rolos de casca de Bétula para lembrar os detalhes dos ensinamentos Ojibway.
(Eles se prepararam para oferecer Tabaco em agradecimento a nossa presença.)
Boozhoo! Estamos contentes que vocês se juntaram a nós novamente para mais alguns ensinamentos Ojibway. Na última vez que estivemos juntos, Nokomis contou-nos como as primeiras pessoas da Terra se desenvolveram a partir da União de Anishinabe (Homem Original) com a Filha do Homem do Fogo. Embora a vida muitas vezes fosse difícil para eles, por muitos anos os primeiros povos viveram juntos em harmonia com toda a Criação.
Lamento dizer que esta forma harmoniosa da vida na Terra não durou para sempre. Homens e Mulheres não continuaram a ter o respeito necessário uns com os outros para manterem o elo sagrado do casamento forte. Famílias começaram a discutir umas com as outras e finalmente aldeias começaram a brigar. Pessoas começaram a lutar por território de caça. Irmão se virou contra irmão e começaram a matar uns aos outros.
Isso entristeceu bastante o Criador, Gitchie Manito, ao ver as pessoas da Terra entrar no caminho da mal. lsso demonstrava que a criação inteira funcionava em harmonia, exceto para as pessoas que foram as últimas a serem colocadas ali. Por um longo tempo Gitchie Manito esperou que o caminho do mal cessasse e que a irmandade, fraternidade e respeito voltassem a reinar.
Quando parecia que não havia nenhuma esperança, Gitchie Manito decidiu purificar a Terra. Ele faria isso com água. A água entrou como um mu-ko '-be-wun' (inundação) sobre a Terra. A inundação foi tão rápida que pegou a criação inteira desprotegida. A maioria das coisas vivas se afogaram imediatamente, mas alguns dos animais foram capazes de nadar, tentando encontrar um pouco de terra para descansar. Algumas das aves que já estavam no ar tiveram que continuar voando a fim de se manterem vivas.
A purificação da Terra com a água parecia ser completa. Todo o mal que tinha se instalado nos corações dos primeiras pessoas tinha sido “lavado”.

- Mas como poderia a vida recomeçar na Mãe Terra outra vez?
Existem muitos ensinamentos Ojibway que se referem a um homem chamado “Way-na-boo’-zhoo”. Algumas pessoas realmente tem se referido a Anishinabe ou ao Homem Original como “Way-na-boo’-zhoo” . A maioria dos anciãos concorda que “Way-na-boo’-zhoo” não era realmente um homem, mas era um espírito que passou por muitas aventuras durante os primeiros anos da Terra. Algumas pessoas dizem que “Way-na-boo’-zhoo” foi o elo através do qual a forma humana gradualmente foi dada para os seres espirituais da Terra. Todos concordam que Way-na-boo’-zhoo tinha muitas características humanas. Ele algumas vezes cometeu erros tal como fazemos. Mas ele também aprendeu com seus erros, de modo que ele pode realizar coisas e tornar-se melhor e viver em harmonia com a Terra. Estas coisas que Way-na-boo’-zhoo aprendeu tornaram-se mais tarde muito úteis ao Povo Indígena. Ele tem sido encarado como uma espécie de herói pelos Ojibway. Estas “histórias de “Way-na-boo’-zhoo”” tem sido contada por muitos anos para as crianças para ajudá-las a crescer de forma equilibrada.
Em nossos ensinamentos a partir de agora, nós iremos usar o nome de " Way-na-boo’-zhoo “ para nos referirmos ao espírito de Anishinabe ou o Homem Original.

O ensinamento sobre como uma Terra nova foi criada após o Grande Dilúvio é uma das Clássicas histórias de Waynaboozhoo. Ela nos conta como Waynaboozhoo conseguiu se salvar por estar descansando sobre um chi-mi-tig ' (tronco enorme) que estava flutuando sobre a vasta extensão de água que cobria a Mãe Terra. Enquanto ele flutuava sozinho sobre este tronco, alguns dos animais que foram capazes de nadar vieram descansar com ele. Eles puderam se revesar para descansar por um tempo e então deixar o outro animal que sabia nadar tomar seu lugar. Isso aconteceu da mesma forma com os alados. Eles puderam se revesar depois de voar muito. E foi através deste tipo de sacrifício e de preocupação uns com os outros que Waynaboozhoo e um grande grupo de aves e quatro-patas foram capazes de se salvar sobre o tronco.
Eles flutuaram por um longo tempo, mas não alcançaram terra firme. Finalmente, Waynaboozhoo falou para os animais. "Vou fazer uma coisa”, disse ele. “Vou nadar até o fundo dessa água e pegar um punhado de Terra. Com este pequeno punhado de Terra, creio que podemos criar um novo lugar para se viver com a ajuda dos quatro ventos e Gitchie Manito”. Waynaboozhoo mergulhou na água. Ele ficou submerso por um bom tempo. Alguns dos animais começaram a chorar porque achavam que Waynaboozhoo poderia ter se afogado tentando alcançar o fundo.
Finalmente, os animais perceberam sinais de algumas bolhas de ar, e por último, Waynaboozhoo apareceu. Alguns dos animais ajudaram-no a subir no tronco. Waynaboozhoo estava com tanta falta de ar que ele nem conseguia falar. Quando recuperou suas forças, falou aos animais:
"A água é muito profunda... e eu não consegui chegar ao fundo... Não consigo nadar suficientemente rápido ou manter meu fôlego tempo bastante para atingir o fundo”.
Todos os animais no tronco ficaram silenciosos por um longo tempo. O Mahng (mergulhão) que estava nadando ao lado do tronco foi o primeiro a falar.
“Eu posso permanecer debaixo d’água por um longo tempo, pois esta é a maneira como pego meu alimento. Vou tentar mergulhar até o fundo e pegar alguma terra com meu bico.”
O mergulhão ficou fora de visão por um bom tempo. Os animais tiveram a impressão de que ele tinha se afogado, mas o mergulhão voltou para a superfície muito fraco e ofegante.
"Não posso fazê-lo," ele disse agoniado. "Parece não haver fundo nessa água:"
Em seguida, veio o Zhing-gi-biss (mergulhão-de-pescoço-vermelho).
"Vou tentar nadar até o fundo, ele disse. Sou conhecido por mergulhar em grandes profundidades."
O mergulhão-de-pescoço-vermelho ficou por um longo tempo debaico d´água. Quando os animais e o Waynaboozhoo estavam prestes a perder as esperanças, viram o corpo do mergulhão-de-pescoço-vermelho emergir até a superfície. Ele estava inconsciente e Waynaboozhoo teve de puxá-lo até o tronco e ajudá-lo a recuperar sua respiração. Quando o mergulhão-de-pescoço-vermelho voltou a si, ele falou para todos os animais no tronco.
"Lamento meus irmãos e irmãs. Eu também não consegui atingir o fundo embora eu tivesse nadado por um longo tempo diretamente para ele.”
Muitos dos animais se ofereceram para realizar a tarefa que seria tão importante para o futuro de toda a vida na Terra. O Zhon-gwayzh ' (vison) tentou, mas não conseguiu atingir o fundo. A Ni-gig'( lontra) tentou e falhou. Mesmo a mi-zhee-kay' (tartaruga) tentou, mas não teve êxito.
Tudo parecia irremediável. Parecia que a água era tão profunda que nenhuma coisa viva poderia alcançar o fundo. Em seguida, uma voz macia, foi ouvida. "Eu tentarei," disse suavemente.
No primeiro momento, ninguém podia ver quem havia falado. O pequeno Wa-zhushk ' ( rato-almiscarado) deu um passo a frente.
“Eu tentarei”, ele disse novamente.
Alguns dos animais riram e zombaram uns com os outros. O mergulhão-de-pescoço-vermelho desdenhou, "Se eu não fui capaz de fazê-lo, como ele espera fazer melhor?”
Waynaboozhoo falou, "Controlem-se todos! Não é nossa tarefa julgar os méritos do outro; essa tarefa pertence ao Criador. Se o pequeno rato-almiscarado quer tentar, sinto que deveríamos deixá-lo fazer.”
O rato-almiscarado mergulhou e desapareceu de vista. Ele permaneceu no mergulho por tanto tempo que Waynaboozhoo e todos os animais sobre o tronco estavam certos de que o rato almiscarado tinha desistido de sua vida na tentativa de alcançar o fundo.
O rato-almiscarado foi capaz de alcançar o fundo da água. Ele já estava muito fraco devido a falta de ar. Ele agarrou alguma terra com sua pata e com o pouco de força que lhe restava, o rato-almiscarado deu um impulsso para retornar a superfície. Um dos animais do tronco percebeu sinais do rato assim que ele chegou à superfície. Eles puxaram seu corpo para o tronco. Wayna-boozhoo examinou o rato-almiscarado.
"Irmãos e irmãs", disse Waynaboozhoo. "Nosso pequeno irmão tentou prender o ar por muito tempo. Ele está morto". Uma canção de luto e louvor foi ouvida ao longo de toda a água enquanto o espírito do Wa-zhushk passava para o próximo mundo.
Waynaboozhoo falou novamente, “Olhem! O rato-almiscarado tem alguma coisa na sua pata.” Waynaboozhoo cuidadosamente abriu a pequena pata do rato almiscarado. Todos os animais se reuniram em torno tentando ver. A pata do rato almiscarado se abriu, e lá, um pouco de Terra numa pequena bola. Todos os animais comentaram! O rato almiscarado se sacrificou para que a vida recomeçasse na Terra.
Waynaboozhoo pegou o pedaço de Terra da pata do rato. Nesse momento, mi- zhee-kay' (tartaruga) nadou para perto deles e disse:
“Utilizem o meu casco para sustentar este pedaço de Terra.”

Com a ajuda do Criador, poderemos fazer uma nova Terra.
Waynaboozhoo colocou um pouco de Terra sobre o casco da tartaruga. De repente os noo-di-noon’ (ventos) começaram a soprar. O vento soprou de cada uma das Quatro Direções. O pequeno pedaço de Terra sobre a tartaruga começou a crescer. Se tornou maior e maior, até que formou um mi-ni-si’(Ilha) na água. A Terra cresceu ainda mais e mesmo assim a Tartaruga mantinha o peso nas suas costas.
Waynaboozhoo começou a cantar uma canção. Todos os animais começaram a dançar em um círculo na Ilha que se expandia. Enquanto ele cantava eles dançavam num círculo sem fim. Finalmente, os ventos deixaram de soprar e as águas baixaram o nível. Uma gigantesca ilha se formou no meio da grande água.
Hoje, o povo Indígena tradicional canta canções especiais e dança em círculo em memória desse evento. O povo Indígena também reverencia a nossa irmã, a tartaruga. Ela sustentou em suas costas o peso da nova Terra e tornou possível a existência da segunda geração da humanidade.
Até hoje, os descendentes do nosso irmão, o rato almiscarado, têm sido favorecidos com uma boa vida. Os ratos-almiscarados continuam a se multiplicar e crescer, não importando que os pântanos tenham sido drenados e suas casas destruídas em nome do progresso. O Criador fez de um jeito que eles estarão sempre conosco devido ao sacrifício feito pelo nosso irmão, há muitos anos atrás quando a Terra estava coberta com água. Os ratos-almiscarados fazem a sua parte hoje em lembrar o Grande Dilúvio; eles constroem suas casas no formato de uma bolinha de Terra, da mesma forma que a grande ilha que foi formada. Esperamos que vocês encontrem um sentido nesse ensinamento sobre o Grande Dilúvio.
Nokomis e eu temos ainda muito mais que gostaríamos de compartilhar com vocês
e que tem a ver com a nossa vida enquanto Indígenas.
Bi-wa-ba-mishi-nam ' me - na-wah'l (Venham nos ver novamente!) Migweth!