sexta-feira, 4 de junho de 2010

Capítulo V
O Grande Dilúvio – (A Inundação)

(Mishomis e Nokomis usam rolos de casca de Bétula para lembrar os detalhes dos ensinamentos Ojibway.
(Eles se prepararam para oferecer Tabaco em agradecimento a nossa presença.)
Boozhoo! Estamos contentes que vocês se juntaram a nós novamente para mais alguns ensinamentos Ojibway. Na última vez que estivemos juntos, Nokomis contou-nos como as primeiras pessoas da Terra se desenvolveram a partir da União de Anishinabe (Homem Original) com a Filha do Homem do Fogo. Embora a vida muitas vezes fosse difícil para eles, por muitos anos os primeiros povos viveram juntos em harmonia com toda a Criação.
Lamento dizer que esta forma harmoniosa da vida na Terra não durou para sempre. Homens e Mulheres não continuaram a ter o respeito necessário uns com os outros para manterem o elo sagrado do casamento forte. Famílias começaram a discutir umas com as outras e finalmente aldeias começaram a brigar. Pessoas começaram a lutar por território de caça. Irmão se virou contra irmão e começaram a matar uns aos outros.
Isso entristeceu bastante o Criador, Gitchie Manito, ao ver as pessoas da Terra entrar no caminho da mal. lsso demonstrava que a criação inteira funcionava em harmonia, exceto para as pessoas que foram as últimas a serem colocadas ali. Por um longo tempo Gitchie Manito esperou que o caminho do mal cessasse e que a irmandade, fraternidade e respeito voltassem a reinar.
Quando parecia que não havia nenhuma esperança, Gitchie Manito decidiu purificar a Terra. Ele faria isso com água. A água entrou como um mu-ko '-be-wun' (inundação) sobre a Terra. A inundação foi tão rápida que pegou a criação inteira desprotegida. A maioria das coisas vivas se afogaram imediatamente, mas alguns dos animais foram capazes de nadar, tentando encontrar um pouco de terra para descansar. Algumas das aves que já estavam no ar tiveram que continuar voando a fim de se manterem vivas.
A purificação da Terra com a água parecia ser completa. Todo o mal que tinha se instalado nos corações dos primeiras pessoas tinha sido “lavado”.

- Mas como poderia a vida recomeçar na Mãe Terra outra vez?
Existem muitos ensinamentos Ojibway que se referem a um homem chamado “Way-na-boo’-zhoo”. Algumas pessoas realmente tem se referido a Anishinabe ou ao Homem Original como “Way-na-boo’-zhoo” . A maioria dos anciãos concorda que “Way-na-boo’-zhoo” não era realmente um homem, mas era um espírito que passou por muitas aventuras durante os primeiros anos da Terra. Algumas pessoas dizem que “Way-na-boo’-zhoo” foi o elo através do qual a forma humana gradualmente foi dada para os seres espirituais da Terra. Todos concordam que Way-na-boo’-zhoo tinha muitas características humanas. Ele algumas vezes cometeu erros tal como fazemos. Mas ele também aprendeu com seus erros, de modo que ele pode realizar coisas e tornar-se melhor e viver em harmonia com a Terra. Estas coisas que Way-na-boo’-zhoo aprendeu tornaram-se mais tarde muito úteis ao Povo Indígena. Ele tem sido encarado como uma espécie de herói pelos Ojibway. Estas “histórias de “Way-na-boo’-zhoo”” tem sido contada por muitos anos para as crianças para ajudá-las a crescer de forma equilibrada.
Em nossos ensinamentos a partir de agora, nós iremos usar o nome de " Way-na-boo’-zhoo “ para nos referirmos ao espírito de Anishinabe ou o Homem Original.

O ensinamento sobre como uma Terra nova foi criada após o Grande Dilúvio é uma das Clássicas histórias de Waynaboozhoo. Ela nos conta como Waynaboozhoo conseguiu se salvar por estar descansando sobre um chi-mi-tig ' (tronco enorme) que estava flutuando sobre a vasta extensão de água que cobria a Mãe Terra. Enquanto ele flutuava sozinho sobre este tronco, alguns dos animais que foram capazes de nadar vieram descansar com ele. Eles puderam se revesar para descansar por um tempo e então deixar o outro animal que sabia nadar tomar seu lugar. Isso aconteceu da mesma forma com os alados. Eles puderam se revesar depois de voar muito. E foi através deste tipo de sacrifício e de preocupação uns com os outros que Waynaboozhoo e um grande grupo de aves e quatro-patas foram capazes de se salvar sobre o tronco.
Eles flutuaram por um longo tempo, mas não alcançaram terra firme. Finalmente, Waynaboozhoo falou para os animais. "Vou fazer uma coisa”, disse ele. “Vou nadar até o fundo dessa água e pegar um punhado de Terra. Com este pequeno punhado de Terra, creio que podemos criar um novo lugar para se viver com a ajuda dos quatro ventos e Gitchie Manito”. Waynaboozhoo mergulhou na água. Ele ficou submerso por um bom tempo. Alguns dos animais começaram a chorar porque achavam que Waynaboozhoo poderia ter se afogado tentando alcançar o fundo.
Finalmente, os animais perceberam sinais de algumas bolhas de ar, e por último, Waynaboozhoo apareceu. Alguns dos animais ajudaram-no a subir no tronco. Waynaboozhoo estava com tanta falta de ar que ele nem conseguia falar. Quando recuperou suas forças, falou aos animais:
"A água é muito profunda... e eu não consegui chegar ao fundo... Não consigo nadar suficientemente rápido ou manter meu fôlego tempo bastante para atingir o fundo”.
Todos os animais no tronco ficaram silenciosos por um longo tempo. O Mahng (mergulhão) que estava nadando ao lado do tronco foi o primeiro a falar.
“Eu posso permanecer debaixo d’água por um longo tempo, pois esta é a maneira como pego meu alimento. Vou tentar mergulhar até o fundo e pegar alguma terra com meu bico.”
O mergulhão ficou fora de visão por um bom tempo. Os animais tiveram a impressão de que ele tinha se afogado, mas o mergulhão voltou para a superfície muito fraco e ofegante.
"Não posso fazê-lo," ele disse agoniado. "Parece não haver fundo nessa água:"
Em seguida, veio o Zhing-gi-biss (mergulhão-de-pescoço-vermelho).
"Vou tentar nadar até o fundo, ele disse. Sou conhecido por mergulhar em grandes profundidades."
O mergulhão-de-pescoço-vermelho ficou por um longo tempo debaico d´água. Quando os animais e o Waynaboozhoo estavam prestes a perder as esperanças, viram o corpo do mergulhão-de-pescoço-vermelho emergir até a superfície. Ele estava inconsciente e Waynaboozhoo teve de puxá-lo até o tronco e ajudá-lo a recuperar sua respiração. Quando o mergulhão-de-pescoço-vermelho voltou a si, ele falou para todos os animais no tronco.
"Lamento meus irmãos e irmãs. Eu também não consegui atingir o fundo embora eu tivesse nadado por um longo tempo diretamente para ele.”
Muitos dos animais se ofereceram para realizar a tarefa que seria tão importante para o futuro de toda a vida na Terra. O Zhon-gwayzh ' (vison) tentou, mas não conseguiu atingir o fundo. A Ni-gig'( lontra) tentou e falhou. Mesmo a mi-zhee-kay' (tartaruga) tentou, mas não teve êxito.
Tudo parecia irremediável. Parecia que a água era tão profunda que nenhuma coisa viva poderia alcançar o fundo. Em seguida, uma voz macia, foi ouvida. "Eu tentarei," disse suavemente.
No primeiro momento, ninguém podia ver quem havia falado. O pequeno Wa-zhushk ' ( rato-almiscarado) deu um passo a frente.
“Eu tentarei”, ele disse novamente.
Alguns dos animais riram e zombaram uns com os outros. O mergulhão-de-pescoço-vermelho desdenhou, "Se eu não fui capaz de fazê-lo, como ele espera fazer melhor?”
Waynaboozhoo falou, "Controlem-se todos! Não é nossa tarefa julgar os méritos do outro; essa tarefa pertence ao Criador. Se o pequeno rato-almiscarado quer tentar, sinto que deveríamos deixá-lo fazer.”
O rato-almiscarado mergulhou e desapareceu de vista. Ele permaneceu no mergulho por tanto tempo que Waynaboozhoo e todos os animais sobre o tronco estavam certos de que o rato almiscarado tinha desistido de sua vida na tentativa de alcançar o fundo.
O rato-almiscarado foi capaz de alcançar o fundo da água. Ele já estava muito fraco devido a falta de ar. Ele agarrou alguma terra com sua pata e com o pouco de força que lhe restava, o rato-almiscarado deu um impulsso para retornar a superfície. Um dos animais do tronco percebeu sinais do rato assim que ele chegou à superfície. Eles puxaram seu corpo para o tronco. Wayna-boozhoo examinou o rato-almiscarado.
"Irmãos e irmãs", disse Waynaboozhoo. "Nosso pequeno irmão tentou prender o ar por muito tempo. Ele está morto". Uma canção de luto e louvor foi ouvida ao longo de toda a água enquanto o espírito do Wa-zhushk passava para o próximo mundo.
Waynaboozhoo falou novamente, “Olhem! O rato-almiscarado tem alguma coisa na sua pata.” Waynaboozhoo cuidadosamente abriu a pequena pata do rato almiscarado. Todos os animais se reuniram em torno tentando ver. A pata do rato almiscarado se abriu, e lá, um pouco de Terra numa pequena bola. Todos os animais comentaram! O rato almiscarado se sacrificou para que a vida recomeçasse na Terra.
Waynaboozhoo pegou o pedaço de Terra da pata do rato. Nesse momento, mi- zhee-kay' (tartaruga) nadou para perto deles e disse:
“Utilizem o meu casco para sustentar este pedaço de Terra.”

Com a ajuda do Criador, poderemos fazer uma nova Terra.
Waynaboozhoo colocou um pouco de Terra sobre o casco da tartaruga. De repente os noo-di-noon’ (ventos) começaram a soprar. O vento soprou de cada uma das Quatro Direções. O pequeno pedaço de Terra sobre a tartaruga começou a crescer. Se tornou maior e maior, até que formou um mi-ni-si’(Ilha) na água. A Terra cresceu ainda mais e mesmo assim a Tartaruga mantinha o peso nas suas costas.
Waynaboozhoo começou a cantar uma canção. Todos os animais começaram a dançar em um círculo na Ilha que se expandia. Enquanto ele cantava eles dançavam num círculo sem fim. Finalmente, os ventos deixaram de soprar e as águas baixaram o nível. Uma gigantesca ilha se formou no meio da grande água.
Hoje, o povo Indígena tradicional canta canções especiais e dança em círculo em memória desse evento. O povo Indígena também reverencia a nossa irmã, a tartaruga. Ela sustentou em suas costas o peso da nova Terra e tornou possível a existência da segunda geração da humanidade.
Até hoje, os descendentes do nosso irmão, o rato almiscarado, têm sido favorecidos com uma boa vida. Os ratos-almiscarados continuam a se multiplicar e crescer, não importando que os pântanos tenham sido drenados e suas casas destruídas em nome do progresso. O Criador fez de um jeito que eles estarão sempre conosco devido ao sacrifício feito pelo nosso irmão, há muitos anos atrás quando a Terra estava coberta com água. Os ratos-almiscarados fazem a sua parte hoje em lembrar o Grande Dilúvio; eles constroem suas casas no formato de uma bolinha de Terra, da mesma forma que a grande ilha que foi formada. Esperamos que vocês encontrem um sentido nesse ensinamento sobre o Grande Dilúvio.
Nokomis e eu temos ainda muito mais que gostaríamos de compartilhar com vocês
e que tem a ver com a nossa vida enquanto Indígenas.
Bi-wa-ba-mishi-nam ' me - na-wah'l (Venham nos ver novamente!) Migweth!

domingo, 25 de abril de 2010

Capítulo 4
-As Primeiras pessoas da Terra

Boozhoo! É bom vê-los novamente. Mas já se passou um longo tempo desde que conversamos. Desta vez, este ensinamento nos leva à primeira união entre o homem e a mulher na terra e eu gostaria de apresentar alguém muito especial para vocês. Esta é a mulher que tem muito significado para minha vida. Esta é a minha mulher Nokomis. Ela recebeu este nome para honrar todas as avós, assim como no tempo da avó do Homem Original. Ela entrará na nossa história neste momento.

Boozhoo! É uma grande honra para mim, Nokomis, compartilhar com vocês o ensino dos primeiros povos da Terra.

Quando nós deixamos o Homem Original em nosso último capítulo, ele estava deixando a tenda de sua avó para procurar sua mãe, seu pai e seu irmão gêmeo. As últimas palavras de sua Avó foram: “De agora em diante vou chamá-lo ‘Anishinabe’” e de agora em diante nós vamos usar este nome quando nos referirmos ao Homem Original durante estes ensinamentos.”
Anishinabe percebeu que seu pai vivia no Oeste, na terra do Ani-mi-keeg’ (seres trovão). Ele viajou nesta direção e usou o movimento do sol no céu para guiá-lo em um caminho certo. Ele teve que viajar dando a volta em muitos lagos e atravessar muitos córregos.
Uma noite, ele fez seu acampamento na costa oeste de um grande lago. Na manhã seguinte, ele acordou com uma bela na-ga-moon’ (música) que parecia flutuar sobre a água do lago. Ela veio com os primeiros raios do sol do novo dia do Leste. Não importava o quanto Anishinabe se esforçava para olhar, pois ele não conseguia distinguir quem ou o que estava produzindo aquela bela canção. Sabia que devia continuar na sua viagem para o Oeste caso quisesse encontrar seu pai, e mesmo assim, essa música o estava chamando de volta para o Leste. Ele se esforçava numa luta interna pensando no que deveria fazer. Finalmente, decidiu deixar de lado a busca por seu pai e seguir para o Leste em busca da origem da bela canção.
Anishinabe fez a canoa de casca de Wee'-gwas (bétula, a árvore). Isto levou quatro dias. Todos os dias, ao amanhecer e ao anoitecer, a música se repetia. Na madrugada do quinto dia, ele entrou na nova jee-mon’ (canoa). Com remo que ele tinha esculpido a partir de uma nogueira, Anishinabe atravessou as águas na direção ao Sol nascente e à bela canção.
Quando o sol estava se pondo atrás dele no Oeste do céu, Anishinabe chegou à costa leste do lago. Lá ele viu uma bela wee-giwahm´ (tenda) feita de mudas e casca de bétulas. A Baw-shki’-na-way’ (fumaça) bailava do topo da tenda. Anishinabe colocou sua canoa e se aproximou dessa “tenda cantante” com muito cuidado
A porta da tenda era voltada para o sol poente. Quando ele olhou para o interior, ele perdeu a respiração. Os raios do Sol poente estavam brilhando sobre a Filha do Homem do Fogo! O que ele havia sentido quando a tinha visto com o Homem do Fogo pela primeira vez voltou e ele pensou que iria estourar de alegria. Sua beleza era estonteante!
Sua música parou e ela falou: “Geen-wayzh'in-da-ka-wa-ba-min” (Há muito tempo que aguardo a sua vinda). "Eu preparei este lugar para nós.” Anishinabe olhou em volta. Ele se encontrava na tenda mais bonita que já tinha visto. O chão estava coberto de peles de muitos animais. No meio havia uma pequena fogueira que continha um fogo acolhedor. Anishinabe estava tão cheio de felicidade! Agora lhe parecia claro que o Criador lhe havia levado a este lugar e tempo. Ele entendeu que muitas vezes temos que colocar nossos próprios planos e desejos de lado e seguirmos os caminhos que o grande mistério coloca diante de nós.
Anishinabe e a Filha do Homem do Fogo formaram um we-di-gay'-win "(união ou casamento) entre homem e mulher que nunca havia sido formado na Mãe Terra. Sua união foi consumada e sagrada aos olhos do Gitchie Manito. O zah-gi'-di-win´ (amor), que fluía entre eles era real e duradouro. Anishinabe se lembrava de como a Filha do Homem do Fogo estava bela quando a viu iluminada pelos raios do sol poente. Decidiu, então, que para ajudar a preservar essa beleza na mulher, tomaria para si a responsabilidade de fazer as coisas mais árduas que fossem necessárias para a sua sobrevivência. Cada um moldou seus papéis para que houvesse boa comida e sua casa fosse ao mesmo tempo bonita e confortável. A coisa mais importante que Anishinabe vinculava à Filha do Homem do Fogo era a sensação de ma-na'-ji-win’ (respeito) que partilhavam entre si. Este fundamento de respeito foi muito importante para guiar uniões futuras entre homens e mulheres.

Da união de Anishinabe e a Filha do Homem do Fogo, quatro gwe-wi-zayn'-sug’ (Filhos) nasceram. Eles foram criados com os ensinamentos que Anishinabe havia aprendido de sua Avó e de suas jornadas ao redor da Terra.
Quando esses filhos se tornaram jovens, Anishinabe e a Filha do Homem do Fogo enviaram cada um deles a uma longa viagem. Cada filho foi enviado para uma das quatro direções.
O filho chamado Gi-way’-din viajou para o Norte. Depois de viajar por um longo tempo, ele chegou a um lugar onde uma fogueira ardia sobre a Terra. Por trás desse fogo estava sentado um homem velho e jovem e uma mulher jovem e muito bonita.
"Eu sou o Ish-kwan-day'-wi-nini (Homem da Porta ou Guardião do Portal) do Norte e essa é minha Filha”, disse ele. “Você está entrando em uma terra onde a Mãe Terra é purificada todos os anos por uma grande quantidade de neve. Mesmo os grandes lagos e rios nessa região ficam congelados no ciclo da Mãe Terra. Esta é a casa do Poder do Urso. O Poderoso do Urso é o guardião dos muitos segredos de como as doenças podem ser curadas. Haverá épocas em que luzes coloridas virão para o céu do Norte. Elas são chamadas de Wa-wa-sayg’ (Aurora Boreal). Elas saem para dançar, quando o Poder do Urso está no seu auge”.
Nesta hora, o Guardião do Portal Norte ateou fogo a uma longa trança de grama. "Este é We-skwu 'ma-shko seh' (Capim Doce ou Sweetgrass). Foi a primeira planta a crescer na Mãe Terra. Por esta razão, nós trançamos essa grama como se fosse o cabelo da sua Mãe. A fumaça do Sweetgrass(Capim Doce) irá manter o mal longe da sua casa e vai mantê-lo seguro durante as suas viagens.”
Este filho viajou e explorou a beleza do Norte. Às vezes ele via as luzes no céu do Norte das quais o Guardião havia falado. Ele percebeu que todas as cores do Universo vinham e dançavam com a estrela do mundo.
O filho chamado Wa-bun’ viajou para o Leste. Depois de caminhar por longos caminhos, ele também chegou a uma fogueira cuidada por um homem velho e uma jovem mulher.
“Eu sou Ish-kwan-day’-wi-nini (Guardião) do Leste”, ele disse. “A fonte de todo conhecimento. Na sua viagem preste atenção em todas as coisas que a sua Mãe Terra tem para lhe ensinar. Eu gostaria de ensiná-lo sobre Ah-say-ma’ (Tabaco)”. O Guardião colocou algum tabaco no fogo. “O fumo do tabaco vai levar seus pensamentos para o Mundo Espiritual. Sua fumaça será seus pensamentos visíveis. Você deve usar o tabaco quando você quiser falar com o seu Avô, o Criador”.
Este filho continuou em sua viagem e finalmente chegou a uma enorme quantidade de zhe-wi-ta'-ga-ni-bi (água salgada). Lá ele saldou o sol todas as manhãs quando ele se levantava sobre a água. O nascer do sol a cada manhã parecia para este filho ser um verdadeiro ma-ma-ka'-ji-win "(milagre), que falava para ele da harmonia de toda a Criação. Também lhe ensinou que o fluxo do conhecimento e sabedoria deste mundo é infinito e cada dia oferece novas experiências e aprendizados.
O filho chamado Zha-wan' viajou para o Sul e chegou a uma terra quente onde os ventos suaves sopraram a maior parte do ano. As florestas desta terra eram de árvores de grande porte e vinhas. Os rios eram sinuosos e subiam e desciam em grandes ondulações sobre a terra. Finalmente, ele chegou a um lugar onde um homem velho e uma jovem muito bonita pareciam estar esperando por ele perto de uma fogueira.
O velho falou: "Eu sou o Ish-kwan-day'wi-nini (Guardião) do Sul. Esta é a terra de nascimento e crescimento. Esta terra está cheia das canções dos pássaros. Alguns dos pássaros vêm aqui todos os anos para escapar do rígido inverno do hemisfério norte. Quando o inverno é longo, os pássaros voam desta terra fértil e carregam consigo as de gi-ti-gay'-mi-non ' (sementes) da vida. Desta forma, a vida é alimentada em cada uma das quatro direções.”
O Guardião colocou um punhado de alguma coisa no fogo. Isto estalou e exalou um cheiro doce e medicinal. “Este é o Gi-shee-kan'dug (cedrinho)", disse. "Use isto para purificar seu corpo da doença e para protegê-lo do mal.”
O filho deixou o Guardião e sua filha e continuou sua viagem pela terra do Sul.

O filho chamado Ning-ga'-be-un viajou para o Oeste. Depois de ter andado por algum tempo notou que seu caminho estava bloqueado por chi'-wa-ji-wan (enormes montanhas), que estavam cobertas por pedras, florestas e prados. Algumas destas montanhas eram tão altas que o ar era pouco para se respirar, além da neve cobrir a terra em alguns lugares durante todo o ano. Depois de cruzar as montanhas, ele chegou a uma terra onde não havia água em lugar nenhum. Os dias eram gi-zhi-day’ (quentes) e as noites eram gi-si-naw’ (frias). Este Filho ficou surpreso com tantos tipos de plantas e animais que eram capazes de viver nesta terra seca. Ele se apressou para encontrar mais florestas e montanhas. Finalmente, ele chegou a um lugar onde um homem velho e uma jovem mulher esperavam junto a uma fogueira.
O velho disse: "Eu sou o Ish-kwan-day'-wi-nini (Guardião) do Oeste. Gostaria de lhe dar Mush’-ko-day-wushk '(Sálvia). Quando ele disse isso colocou uma folha prateada sobre o fogo. A fumaça tinha um cheiro forte. “A fumaça desta planta pode ser usada para purificar seu corpo e o seu entorno alem de mantê-lo com boa saúde. A terra do Oeste é o lugar onde o Sol se põe. E depois do lugar onde o Sol se põe é onde os gee-baw'-ug (espíritos) têm suas casas. É para este mundo que todos os espíritos viajam depois que suas vidas terminam na Terra. Você deve ter cuidado para não temer estes espíritos nem o caminho dos que partiram. Ao invés disso, aprecie as alegrias da vida com as quais você é abençoado nesta Terra.
O filho continuou seu caminho e vagou pelas terras do Oeste. Ele também chegou a uma enorme quantidade de água com sabor de sal. O Sol poente parecia representar a conclusão do ciclo de vida.
Após os quatro filhos terem explorado estas terras cada qual voltou para os Portais destas direções e pediram aos Guardiões permissão para levar as suas Filhas e construírem lares para si. “Cada um destes casais descobriu a felicidade de we-di-gay’-win”. Eles formaram círculos que eram fortes e inquebráveis. Estes círculos representavam a harmonia e plenitude que pode acontecer quando o homem e a mulher juntam suas vidas de uma maneira sagrada.

As uniões de cada uma destas novas famílias foram abençoadas com nee-jaw-ni-sug’ (crianças). Não se passaram muitos anos até que essas crianças crescessem para viajar e estabelecer suas próprias famílias.As tribos começaram a crescer. Havia apenas umas poucas pessoas vivendo aqui e ali, mas em cada uma das quatro direções havia o som de caça, canto, riso, construção de cabanas, ensinamentos e todas as coisas necessárias ao desenvolvimento da vida de uma forma harmoniosa.
A vida em alguns lugares era difícil para o povo. Diz-se que houve uma época em que o gelo veio do Norte e cobriu grande parte da Terra. Em algumas aldeias, alguns homens teriam que correr por longas distâncias sobre o gelo e neve para se comunicar com outras aldeias e encontrar ervas medicinais e vegetais que alimentassem e que só eram encontrados aqui e ali na Terra. A tarefa dos corredores foi dificultada pelo fato de que as grandes camadas de gelo sobre a Terra mudavam gradualmente de modo que os caminhos onde existiam os vegetais para alimentação e medicamentos mudavam de tempos em tempos. Essas pessoas que viviam nessas vastas extensões de gelo e neve foram chamadas Oh-kwa-ming'-nini-wug’ "(Homens do Gelo). Os homens que se especializaram como os corredores eram uma raça especial de homens. Por causa dos seus sacrifícios para o povo, foi-lhes dado um alto lugar de honra.
Tem sido contado através das eras, que uma vez um grupo de corredores encontrou filhotes de lobo no deserto congelando e os levou para a aldeia. Eles pensavam que os filhotes poderiam ser criados como cães e cozidos e comidos, se em algum momento as pessoas tivessem alguma necessidade desesperada de alimento. Os filhotes, porém, quiseram buscar outro caminho para se tornarem úteis para as pessoas. Quando eles cresceram, começaram a ir ao encontro dos corredores exaustos e levá-los para casa. Em uma ocasião, um dos maiores cães falou para os corredores e instruiu-os na elaboração de um zhoosh-ku'-da-bahn (trenó). Este cão contou-lhes como seis cães poderiam ser atrelados em um trenó e que isso levaria um homem muito mais rápido e mais longe sobre a neve. Eles poderiam ampliar sua comunicação com outras aldeias e as suas expedições para conseguir recolher alimentos.
Esta Iigação do homem e do cão foi muito importante, pois combinou a inteligência do homem com a intuição do cão. Se um homem se perdia no deserto, aos cães poderiam levá-lo de volta para casa. Esta união do homem e do cão também foi importante porque lembrava o ensino do vínculo que existia entre Anishinabe e o Lobo em suas jornadas pela Terra.
O número sete, obtido pela união dos seis cães e um homem sobre o trenó, tornou-se um número muito especial para o povo da Terra a medida que os seus caminhos espirituais se desenvolveram.
Não importa o quanto a vida era difícil para o primeiro povo da Terra. Todos os dias eram reconhecidos como portadores de experiências bonitas e novas lições a serem aprendidas do mundo que os cercava. As o-day-nah-wayn'-sun’ (pequenas aldeias) do povo cresciam. Novas aldeias foram formadas aqui e ali, em toda a Mãe Terra.
Termino este ensinamento aqui. Mishomis e eu vamos continuar na próxima vez com as histórias que foram passadas para nós de como a vida se desenvolveu para estes primeiros povos da Terra. Mi-gwetch’ (Obrigada)!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Capítulo III
-O Homem Original e Sua Avó – No-ko-mis (Avó Lua)
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--Boozo! É muito importante que vocês possam se reunir na minha casa e ouvir esses antigos ensinamentos Ojibway. Eu tenho muito a lhes contar.
--Nós terminamos o nosso ensinamento da outra vez quando o Criador separou os caminhos do Homem Original e o do Lobo. Depois que isso aconteceu, o Homem Original caminhou na Terra e se deu conta de que muitos milagres o rodeavam. Ele não entendia muito das coisas que ele via então ele levou esses questionamentos ao seu Avô, o Criador.
--O Criador respondeu, “Cruzando um vasto lago vive sua No-ko’-mis (Avó). Ela não é do mundo pelo qual você caminhou; ela tem a sabedoria dos espíritos. Vá até a sua casa, porque são os anciãos que carregam o conhecimento dessas coisas sobre as quais você quer saber”.
--O Homem Original começou a procurar pela Nokomis e chegou até uma grande expansão de água, mas por mais que tentasse, não conseguia entender como chegar do outro lado. Ele tentou caminhar primeiro numa direção e depois na outra, dando uma volta na água. Mas parecia que não havia um fim para aquela extensão.
Finalmente, ele estava tão cansado que resolveu sentar. Os ba-nay’-she-ug’ (pássaros) começaram a cantar sobre a sua cabeça. “Voe! Cruze voando,” eles cantaram. “É fácil!” Mas o Homem Original olhou para os seus braços e balançou a cabeça. Ele não foi feito para voar. Os gi-gounh-nug’ (peixe) começaram a pular para fora da água instigando-o e provocando-o. “Nade! Atravesse nadando”, eles disseram. “É divertido!” Mas o Homem Original olhou pros seus braços e pernas. Não, ele não era feito para nadar longas distâncias também.
O Homem Original perguntou a um dos peixes “Por favor! Atravesse a água pra mim e veja se a minha Avó realmente vive do outro lado”.
--O peixe nadou e ficou por lá por um longo tempo e demorou muito para voltar.
--Quando o Homem Original já estava desistindo de esperar, o peixe retornou.
-- “A sua Avó realmente vive do outro lado dessa água”, ele disse. “E ela espera pela sua chegada”.
O Homem Original pensou e pensou em como ele poderia atravessar aquela água. Ele teve uma idéia: poderia flutuar sobre um tronco. Ele deu uma olhada em volta e viu alguns castores trabalhando em um açude. Ele notou como eles cortavam as árvores com seus dentes afiados. O Homem Original encontrou para si uma boa ah-sin’ (pedra) e amolou-a até deixar uma ponta bem afiada. Ele amarrou isso a um prendedor de madeira com um pedaço de casca da Wee-goob-bee’ (tília americana). Com essa nova ferramenta ele cortou uma árvore e fez um grande tronco dela.
--O Homem Original carregou o tronco até a beira da grande água, limpou-o e pulou sobre ele. Era muito difícil se equilibrar sobre o tronco e ele caiu. E o Homem Original ficou todo molhado. Ele conseguiu nadar de volta até a praia empurrando o tronco.
--Ele pensou como poderia fazer para que o tronco flutuasse melhor. Ele lembrou que uma vez havia encontrado uma Gi’-tchie Man-a-meg’ (baleia) em uma de suas jornadas pela Terra. Mesmo esta sendo tão grande, ele não teve problema de nadar sobre ela, conseguindo se segurar nela sobre a água. Com o seu wa-ga-kwud’ (machado) o Homem Original esculpiu o fundo do tronco dando o mesmo formato da barriga da baleia. Ele até esculpiu um assento sobre o tronco para que ele pudesse sentar.
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--Novamente, o Homem Original lavou o tronco na água. Desta vez ele não teve problema para deixá-lo virado para cima, mas logo percebeu que estava flutuando a esmo. Então, um chi-noo’-din (grande vento) puxou o Homem Original e o seu tronco. Os ventos o sopraram prá longe de onde ele tinha começado, mas eles sopraram prá longe da beira e nem um pouco prá perto de Nokomis.
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--O Homem Original sabia que ele tinha que arranjar um jeito de manter o tronco se movendo na mesma direção. Ele se lembrou como era um bom nadador Ah-mik’ (castor) e que Ah-mik’ tinha um pé largo como uma nadadeira e um rabo plano. O Homem Original levou um tempo grande para entender qual seria a melhor madeira para fabricar o instrumento que ele tinha em mente. Finalmente, ele selecionou um pedaço de nogueira e com um machado ele esculpiu um Ah-bwi’ (remo) bem parecido com o pé e o rabo do Ah-mik’.
--Mais uma vez, o Homem Original continuou na sua Ba-ba’-ma-di-zi-win’ (jornada). Ele conseguiu uma boa velocidade em sua canoa escavada e seu novo remo. Mas ele nunca pensou em levar comida e água consigo na canoa. Logo ele começou a ter fome e sede. Ele tentou beber da grande água, mas ela tinha gosto de zhe-wa-ta’-gun (sal). Ele já estava para voltar atrás de comida e água quando se apercebeu que ainda estava bem perto de onde ele havia começado, mesmo que tivesse remado o dia todo. Percebam o Homem Original não entendia como remar numa linha reta. Durante todo o dia ele tinha feito um grande gi-we-tash’-skad (círculo).
--O Homem Original voltou para a beira e descansou e pensou sobre todos os erros que havia cometido. Quando ele se sentiu mais forte para começar na sua quarta tentativa para atravessar a grande água, o Homem Original colocou o Ah-say-ma’ (Tabaco), na água e pediu ao criador por uma jornada segura e de sucesso. Todos os animais se reuniram em torno dele. Os pássaros se reuniram e cantaram uma na-ga-moon’ (canção para lhe dar força). Alguns animais choravam porque eles estavam tristes por ver o Homem Original partir numa jornada tão demorada e perigosa. Quando ele partiu, muitos pássaros voaram com ele enquanto ele remava. Muitos peixes nadaram com ele para lhe fazer companhia.
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--O Homem Original tinha aprendido com seus erros anteriores e desta vez ele trouxe reserva de água e comida. Desta vez ele ficou olhando o Sol e a Lua e a Gi-way’-din ah-nung (estrela norte) para lhe ajudar a viajar numa linha reta. Ele percebeu que havia certos pássaros grandes que poderiam voar perfeitamente em linha reta por muitos quilômetros e ele ajustou o seu remo para que a sua jornada fosse como a deles.
--O Homem Original tinha aprendido com tudo isso que o seu entorno lhe ensinava muitas coisas. O Criador tinha colocado muitas lições ao seu redor para lhe ensinar como viver em harmonia com tudo da Criação. Ele tinha que usar a sua mente – seu pensamento e razão – para descobrir ferramentas e melhores formas de fazer as coisas. Ele tinha que se preparar para os desafios de cada e todo dia.
--O Homem Original remou muitos dias até que finamente ele avistou o outro lado da água ainda muito distante. Quando chegou à beira, encontrou Nokomis em frente da sua cabaninha esperando por ele.
Ela lhe deu as boas vindas, lhe deu comida e fez com que ele descansasse. Enquanto descansava, o Homem Original começou a perceber que a Nokomis levava uma vida muito difícil cuidando de si mesma. Ela era muito velha para caçar e não conseguia mais fazer o que era preciso para pescar. Para se alimentar, ela tinha que procurar e comer as carniças que os grandes animais como Mu-kwa’ (urso) deixavam. No be-boong’ (inverno), era muito difícil para Nokomis. Ela não tinha água porque não tinha nem machado para cortar um buraquinho no gelo.
--O Homem Original tentou fazer a vida de Nokomis melhor. Ele lhe fez uma linda wee-gi-wahn’ (cabana) forrada com a pele mais fina dos animais.
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--Com a casca das árvores que ele coletou, Nokomis fez cestas e as selou com be-gew’ (sumo ou piche) de uma forma que elas pudessem ser usadas para carregar água. Com a Ah-gi-mak’ (restos de madeira) que ele coletou, a Nokomis fez cestas trançadas para estocar coisas. Com a pele dos animais que ele provia, Nokomis fez para ela e para ele belas roupas. Ela fez finos mocacins (sapatilhas de couro) para os seus pés. Ela usou cinzas de madeiras e o cérebro de Wa-wa-shkesh’-shi (veado) para fazer o couro mais mole. Ela usava raízes para dar cor e fazer as roupas bonitas. Ela fez um casaco de inverno para o Homem Original e uma bolsa especial para que ele pudesse carregar consigo todas as coisas que ele precisasse na sua jornada. Ela bordou bonitos desenhos florais na bolsa com diferentes cores de cabelo de alce. Dessa bolsa se originaram as bolsas que mais tarde o povo Ojibway passou a usar. Uma bolsa como essa passou a ser um símbolo de autoridade e os seus desenhos diziam sobre a pessoa que a carregava.
--Enquanto passavam as estações, o Homem Original e sua Avó viviam em harmonia com a Terra. Eles colhiam frutas silvestres e defumavam peixe e secavam carne, tudo de acordo com as estações. Eles estocavam muita comida para se prepararem para o inverno que se aproximava.

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--No inverno enquanto eles sentavam perto da wee-gi-wahm’ (lareira) tentando se aquecer, Nokomis contaria ao Homem Original muitas histórias. Ele tinha muitas perguntas a lhe fazer sobre os mistérios do Universo e ela lhe respondia da melhor forma que podia.
--Ele lhe perguntou, “Como o Universo começou e como a nossa Mãe Terra se tornou um ser?”
Nokomis respondeu, “Neto, primeiro houve o vazio no Universo. Não havia nada que preenchesse esse vazio além do som. E esse som era como aquele da she-she-gwun’ (maracá).”
Nós usamos hoje os maracás para imitar aquele som.
--Nokomis continuou, “Gitchie Manito era o primeiro pensamento. Ele enviou seus pensamentos para cada direção, mas eles se perdiam no além. Não havia nada que lhes enviasse de volta. Finalmente, Gitchie Manito tinha que chamar seus próprios pensamentos de volta. As estrelas que você vê à noite representam a trilha dos seus pensamentos.
-- “Primeiro, Gitchie Manito criou o Gee’-sis (Sol) prá que ele pudesse ver. Depois ele tentou criar outros objetos. Um era a Wa-bun’ah-nung’ (Estrela da Manhã) que nos diz a cada dia que o Sol se aproxima. Então, ele tentou criar um lugar no qual ele pudesse colocar vida. Numa de suas tentativas isso acabou sendo coberto por uma nuvem. Uma era uma rocha cheia de calor. E uma foi coberta com gelo. Na sua quarta tentativa ele criou a Terra. Ele gostou disso, então, ele colocou cantores nela em forma de pássaros. Os pássaros espalhavam as sementes da nova vida.

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-- “A Terra foi criada no Universo para que Gee’-sis (Sol) e Nee’-ba-gee-sis (Sol da Noite ou Lua) pudesse se alternar caminhando no céu cuidando da Criação. O Sol iria tomar conta durante o dia e a Lua iria tomar conta durante a noite.”
--É o movimento do Sol e da Lua que nós imitamos nas Cerimônias hoje quando nós passamos as coisas numa única direção.
--O HOMEM ORIGINAL aprendeu com a sua Avó que nós deveríamos prover os nossos anciãos porque eles nos provêem quando somos jovens e precisamos de direcionamento. Eles nos ensinam tudo que precisamos saber para vivermos nesse mundo. Seu trabalho com Nokomis lhe ensinou que nós devemos nos empenhar e trabalhar por coisas que venham a beneficiar os outros que estão perto da gente.
--Quando o inverno estava para terminar, o Homem Original se tornou mais e mais inquiridor. “Eu tenho uma mãe?” “Sim”, ela disse. “Não há beleza como a dela”. Ela estava relutante para dizer mais.
-- “Eu tenho um pai?” Ele perguntou. “Sim”, ele é muito perto da perfeição. “Ele só é o segundo se o compararmos ao Criador”. Mas, ela não iria dizer nada mais.
--Nokomis trabalhou arduamente numa roupa muito bonita para o Homem Original que ela disse que ele iria usar quando fosse conhecer o seu pai. Ela lhe preparou mentalmente e fisicamente para todas as coisas que ele iria enfrentar no futuro.
--Um dia, sua Avó lhe contou sobre ish-skwa-day’ (fogo). Ela disse, “Tem um Homem que cuida do Fogo. Você tem que ir até ele e lhe pedir um pouco dele para que a gente possa viver melhor. A sua jornada será dura e cheia de testes. Você deve manter seu coração e mente forte e se manter fiel em relação às coisas que lhe ensinei”.
--O Homem Original começou a sua jornada e chegou a uma vasta extensão de água. Usando agora as habilidades que ele havia adquirido anteriormente, rapidamente fez uma canoa e remou sobre a água. Logo chegou a um lugar rochoso no qual tinha que atravessar com muito cuidado para não cair. O Homem Original, então, chegou às planícies onde o vento nunca parava de soprar. Depois que atravessou isso, chegou a um lugar muito estranho. Parecia que havia existido lá um zah-ga-e-gun’ (lago). Toda a água havia secado e tudo parecia com o piche que a Nokomis usava para selar as cestas de cascas. Para evitar que ele afundasse no piche, o Homem Original amarrou um pedaço longo e fino de madeira embaixo de cada pé. Ele tentou caminhar com isso, mas logo atolou naquela substância preta e pegajosa. O Homem Original pensou duramente por um tempo sobre o que ele poderia fazer para atravessar aquele lugar estranho. Ele finalmente tentou untar a parte de baixo dessas pranchas com mush-ka-wuj’-i-be-mi-day (banha de veado ou sebo).

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--Com essa camada sob a madeira, descobriu que poderia deslizar facilmente sobre o lago de piche.
Ele pelo menos chegou até a cabana do Homem do Fogo. Ele ficou muito surpreso que aquele velho homem tinha uma filha jovem e muito bonita. Por ela ele sentiu algo que nunca havia sentido antes. Ele não conseguia entender isso. O Homem do Fogo foi muito severo com ele. Ele disse, “Eu lhe esperei por um longo período. Seu Avô, Gitchie Manito, me disse que você iria aparecer. Desde então muitos outros tentaram encontrar esse lugar, muitos tentaram me enganar, mas pude perceber que eles tinham forças perversas e que queriam usar o Fogo que eu tenho de uma forma errada. Perceba, o Fogo é um presente muito especial do Criador. Se você o respeita e toma conta dele ele vai tomar conta de você e lhe trazer calor. Mas, dentro da sua bondade existe também o mal. Se você negar fogo ou usá-lo de forma errada ele iria destruir toda a Criação. Muitas coisas na vida têm forças boas e más aprisionadas em si. A cada vez que você usa o fogo você deveria se lembrar que este é o mesmo fogo com o que o Criador fez o Sol. É também o fogo que o Criador colocou no coração da Mãe Terra. Você pode usar esse fogo prá se comunicar com o Criador. Você pode usá-lo para seu Tabaco deixando a sua fumaça carregar as suas orações para Gitchie Manito. Essa fumaça será como seus pensamentos como se você os pudesse ver.

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---Com esses ensinamentos, o Homem do Fogo enviou fogo pelo Homem Original para que o levasse de volta a Nokomis. O Homem Original colocou fogo numa pedra pequena abolada que a Nokomis a tinha enviado por ele. Era uma longa e difícil caminhada de volta à cabana de Nokomis. O Homem Original tinha que ser cuidadoso para não deixar cair o fogo sobre o piche no fundo do lago que havia secado ou em qualquer outro lugar que ele pudesse começar um fogo tão grande que poderia queimar o mundo inteiro. Ele tinha que ser cuidadoso para não deixar cair o fogo enquanto ele cruzava aquele lugar rochoso. Ele tinha que ser cuidadoso para não deixar que o vento que nunca parava de soprar apagasse o fogo quando ele atravessasse as planícies. Ele também tinha que ter muito cuidado quando atravessasse o lago para que a água não apagasse o fogo.

--Nokomis estava muito feliz em vê-lo quando se aproximou da sua casa. O fogo que ele trouxe mudou drasticamente as suas vidas. Muitos animais que eram bons para serem comidos se ofereceram para o Homem Original. Alguns dos animais lhe contaram sobre outros animais que eram bons para serem comidos.
As perguntas que o Homem Original tinha para Nokomis nunca acabavam. Ele continuava a pressioná-la para saber mais sobre a sua mãe e o seu pai. Ela tinha dificuldade de segurar aquela informação à medida que a curiosidade do Homem Original crescia e crescia. Acreditava que ele ainda não estava pronto para isso.
--Nokomis estava um pouco triste porque o seu tempo com o Homem Original estava chegando ao fim. Ainda assim, ela estava um pouco feliz porque o Criador tinha lhe dito que quando ela tivesse terminado de preparar o Homem Original em tudo aquilo que ele precisava saber para sua vida na Terra, ela seria enviada para um lugar especial. Ela seria enviada para viver com a Lua e cuidar das mudanças dela e dos efeitos daquelas mudanças que a Terra sentia – coisas como as marés dos mares, crescimento das plantas, as ações dos animais e muito mais. Nokomis deveria também olhar todas as mulheres que iriam habitar a Terra.

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--O Homem Original soube pela Nokomis que a sua mãe morava no Wa-ba-noog’ (Leste) e que o seu pai vivia no Ning-ga’-be’uh’nunoog’ (Oeste). Ela até disse que ele tinha um irmão gêmeo. Nokomis lhe disse que existem coisas na vida pelas quais nós devemos ir atrás e procurar por elas; elas simplesmente não chegam até aquela pessoa. Assim é com o conhecimento. É assim com muitas outras coisas.
--O Homem Original amava muito Nokomis e ele ficava triste ao pensar no quando a deixasse, mas ele sabia que havia muitas coisas no mundo esperando por ele para serem descobertas e para aprender delas. Ele estava seguro que Nokomis agora se sentia confortável e estava bem provida. Ele sabia que o tempo era certo para deixá-la e para prosseguir numa outra jornada, desta vez para encontrar seu irmão gêmeo, sua mãe e o seu pai.
--Quando o Homem Original estava deixando Nokomis, ela lhe disse, “Neto, agora que eu me despeço de você eu irei te chamar de Anishinabe. Você é o primeiro das pessoas que irão viver na Terra. Você é o seu ancestral, por isso eles também se chamarão Anishinabe.”
--Existem muitas lições importantes pras nossas vidas escondidas nesses ensinamentos do Homem Original e da sua Avó. No final dessa história o Homem Original e a Nokomis estavam tristes ao ver o seu tempo juntos chegando ao fim, mas eles também estavam felizes com as coisas bonitas que estavam lhes esperando no futuro. Assim é também com a nossa vida na Terra. Claro, nós ficamos tristes ao pensar na morte e por pensar em nossos amigos e lugares que amamos. Mas, nós devíamos ficar felizes em saber que existem coisas bonitas que nos aguardam quando deixarmos essa vida.
--Pensem em todos esses ensinamentos e as lições que eles trazem para vocês. Gi’-ga-wa-ba-min’ na-gutch’! (Até Logo!)

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quarta-feira, 31 de março de 2010

Capítulo II
-“Homem Original caminha na Terra.”

---Boozhoo, eu tenho mais história Ojibway para lhes contar. Esses E-ki-má-di-win (ensinamentos) foram passados pelos meus avós. No último capítulo foi comentado como nós aprendemos como o Homem Original foi criado e baixado à Terra pelo Criador , “Gitchie Manito”.
--- Depois que o Homem Original foi colocado na Terra, ele recebeu instruções do criador, lhe foi ditado que caminhasse na Terra e nomeasse todos os o-way-se-ug’ (animais), as plantas, as colinas, e os vales do criador gi-ti-gan’ (Jardim do Criador).
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--- O Homem Original ainda não tinha nome para si, mais tarde, as pessoas iriam se referir a ele como Anishinabe (de onde baixou a espécie macha), e ainda mais tarde Way-na-boo’-zhoo. Mas nesse início aquele que não tinha nome iria nomear toda a criação.
Enquanto o Homem Original caminhava na Terra, nomeava tudo da ni-bi’(água). Ele identificava todos os rios, correntes, açudes, lagos e oceanos. Ele aprendeu que haviam rios que corriam no subterrâneo. Essas são as veias da Mãe Terra. A Água é o seu sangue vivo. Ela a purifica e alimenta.
--- O Homem Original também nomeou todas as partes do corpo. E até mesmo o-kun-nug’ (ossos) e órgãos de dentro do corpo.

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---Enquanto o Homem Original estava executando as instruções que foram dadas pelo Criador, ele notou que a Terra tinha quatro estações. Toda vida fazia parte de um ciclo sem fim.
---Às plantas, foi dada nova vida na primavera. Na chegada do verão elas floresciam e davam vida as sementes, para a próxima geração. Algumas plantas produziam frutos.

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---be-boong’ (inverno)/ ze-egwung’ (primavera)/ nee-bing’ (verão)/ da-gwá-ging (outono)
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---No outono, as folhas de muitas plantas, de verde mudavam para muitas cores espetaculares. As folhas gradualmente caiam no chão assim como os Gee-Zhi-gad-doon’ (dias) ficavam mais curtos, e as dee-bee-Kad-doon’ (noites) ficavam mais frias.
---No inverno, os ventos frios do Gee-way’-din (Norte) traziam a neve purificadora que limpava a Mãe Terra. Algumas plantas morriam e deixavam seus corpos para a sua mãe. Outras plantas caíram em um sono profundo e só acordavam quando o avô sol e os ventos quentes do Zha-wa-noong '(Sul) anunciavam a chegada da primavera.
---Quando o Homem Original viajava pela Terra, ele identificou quais frutas eram boas para se comer e quais não podiam ser comidas. Enquanto ele progredia, ele descobriu que algumas o-gee'-bic-coon’ (raízes) eram boas para o alimento. Outras eram boas para mush-kee-ki’ (medicamento). Algumas raízes poderiam ser usadas para fazer tinturas de diferentes cores e sabores para comida. Outras raízes poderiam ser usadas como uma linha forte na costura e na construção de ferramentas.
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--- Enquanto caminhava, o Homem Original falava com os animais. E também os nomeava. Ele observou que alguns animais eram bons para nós-sin'-ni-win "(comida) e para cura. Ele notou que cada tipo de animal tinha sua própria individualidade e sabedoria. Ele não sabia que todas estas plantas e animais teriam que desempenhar um papel importante para todas as pessoas que viriam para viver na Terra em um momento posterior.
--- O Homem Original viajou por toda parte. Não havia nenhuma planta, animal ou lugar que não tenha sido tocado por ele.
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---Em suas viagens, o Homem Original começou a notar que todos os animais vieram em pares e se reproduziram. E, no entanto, ele estava sozinho.
---Ele falou para o seu avô, o Criador e perguntou: “Por que eu estou sozinho? Why are there no other ones like me? Por que não existem outros como eu?”
---Gitchie Manito respondeu: "Eu vou mandar alguém para andar, falar e brincar com você". Ele enviou Ma-en'-gun (o lobo).
---Com Ma-en'-gun ao seu lado, o Homem Original novamente falou a Gitchie Manito, "eu terminei aquilo que você me pediu para fazer. Eu visitei e nomeei todas as plantas, animais e lugares da Terra. O que você tem agora para eu fazer?
---Gitchie Manito respondeu ao Homem Original e a Ma-en'-gun, "Um vai ser irmão do outro. ” Agora, vocês dois irão andar na terra e visitar todos os seus lugares.”
---Então, o Homem Original e Ma-en'-gun (Lobo) começaram a caminhar e conheceram toda Terra. Nesta jornada eles se tornaram muito próximos um do outro. Tornaram-se como irmãos. Na sua proximidade eles perceberam que eram irmãos de toda a Criação. -
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---Quando eles completaram a tarefa que Gitchie Manito lhes pediu para fazer, eles falaram com o Criador, mais uma vez.
---O Criador disse: "De hoje em diante, você separará seus caminhos. Vocês têm que seguir caminhos diferentes.
--- "O que deve acontecer com um de vocês vai acontecer também ao outro. ” Cada um de vocês vai ser temido, respeitado e mal entendido pelas pessoas que mais tarde irão se juntar a vocês nesta Terra”.
---E assim, Ma-en'-gun e o Homem Original partiram em jornadas diferentes.
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---Este último ensinamento sobre o lobo é importante para nós hoje. O que o meu Avô disse-lhes: tornou-se realidade. Tanto o índio como o lobo, se tornaram parecidos e experimentaram a mesma coisa. Ambos têm um sistema de clãs e uma tribo. Ambos tiveram suas terras tomadas. Ambos têm sido caçados pelo seu wee-ness'-si-see’ (cabelo). E ambos chegaram quase a sua destruição.
---Nós podemos falar sobre o nosso futuro como povos indígenas, olhando para o lobo. Parece que o lobo está começando a voltar a esta terra. Será que isto prova que os povos indígenas, deixaram de ser os “Americanos Banidos”? O povo indígena conseguirá liderar o caminho de volta à vida natural e respeito pela nossa Terra Mãe?
---O ensinamento sobre o lobo é importante por outra razão. Do lobo veio o ah-ni-moosh-shug '(cães) que são nossos amigos hoje. Eles são irmãos para nós. Muito parecido com o tempo, em que o lobo era como irmão do Homem Original. Porque Gitchie Manito separou os caminhos do lobo e do homem, uma vez que nossos cães de hoje são parentes dos lobos, nós nunca deveríamos deixar os cães em torno de nossas cerimônias sagradas. Permitir isso seria violar os desejos do Criador e pôr em perigo as vidas daqueles que participam da cerimônia. Desta forma os cães não deveriam estar perto de locais onde são guardados objetos cerimoniais. Algumas tribos hoje honram cães em cerimônias especiais. Isto é feito para reconhecer a fraternidade especial que existia entre o lobo e o Homem Original.
---A partir dos sacrifícios que o Homem Original fez ao nomear tudo da Criação é que origina as nossas Cerimônias de Nomes hoje. Para esta cerimônia, pai e mãe de uma criança buscam uma Pessoa Medicina que irá procurar um nome para seu filho ou filha. Essa busca pode ser feita através do jejum, meditação, oração, ou sonho. O Mundo Espiritual falaria com a Pessoa Medicina e daria um nome aquela criança.
Em uma reunião de familiares e amigos, a Pessoa Medicina queima uma oferta de tabaco e pronuncia o novo nome a cada uma das Quatro Direções. Todos os presentes repetem o nome a cada vez que ele é pronunciado.
---Desta forma, o Mundo Espiritual trata de aceitar e reconhecer a criança com o novo nome. Diz-se que antes da cerimônia de nomeação, os espíritos não são capazes de ver o rosto da criança. É através deste ato de nomeação que eles olham para o rosto da criança e a reconhecem como um ser vivente. Posteriormente, o mundo espiritual e todos os ancestrais passam a olhar e proteger essa criança.
---Eles também preparam um lugar no mundo espiritual que este ser vivente irá ocupar quando a sua vida nesta Terra chegar ao fim.
---Nesta cerimônia os pais da criança pedem a quatro mulheres e a quatro homens para serem padrinhos da criança. É uma grande honra ser convidado a preencher essa posição. After the child is given a name, each of the sponsors stand and proclaim a vow to support and guide this child in his development. In this way a provision is made by which the child will always be cared for. Depois que a criança recebe um nome, cada um dos padrinhos fazem um voto para apoiar e orientar a criança em seu desenvolvimento. Desta forma, é dada uma segurança que esta criança será sempre cuidada.
---Através desta Cerimônia de Nomes que foi iniciado pelo Homem Original a continuidade é dada para a vida das pessoas que passam a habitar a Terra.
Hoje, devemos utilizar estes antigos ensinamentos para viver nossas vidas em harmonia com o plano que o Criador nos deu. Estamos fazendo essas coisas, porque é a ordem natural do Universo.

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Mi-gwetch '(obrigado)!
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terça-feira, 30 de março de 2010

Capítulo I
-A História da Criação Ojibway

Boo-zhoo‘(Olá), meu nome é Mishomis. Eu sou um índio Ojibway. Eu vivo aqui na minha cabana às margens arborizadas de Madeline Island. Madeline Island é no Lago Superior, e faz parte de um grupo de ilhas agora chamado de Ilhas Apóstolo. Não é muito longe da cidade de Ashland, Wisconsin.

Muitos anos atrás, ancestrais meus Ojibway migraram para esta área de sua pátria original na costa leste da América do Norte. Agora os Ojibway e suas ramificações se espalham desde a costa atlântica, ao longo do rio São Lourenço, e em toda a região dos Grandes Lagos sobre este país.

Madeline Island foi o último local de paragem na grande migração. Aqui, o Tambor de Água do tradicional Midewiwin Lodge soou sua voz alta e clara. Sua voz viajou muito sobre a água e através das florestas. A sua voz chamou a muitos bandos da nação Ojibway.
Foi há muitos anos desde que o Tambor de Água fez soar a sua voz aqui. Este Tambor de Água que eu tenho ao meu lado me foi transmitido pelos meus avós. Estou preparando este lugar para ser um lugar de renascimento de formas tradicionais indígenas. Estou me preparando para que eu possa lembrar os ensinamentos de meus avós. Gostaria de dar esses ensinamentos para vocês. Eu acredito que juntos, possamos começar a viagem de volta para encontrar o que muitos do nosso povo deixaram pelo caminho. Esta será uma jornada para descobrir um modo de vida que é centrado no respeito por todas as coisas vivas. Será uma viagem para encontrar o centro de nós mesmos para que possamos conhecer a paz que vem de viver em harmonia com o poder do Universo.
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Eu não acredito que tenha que me isolar na memória do passado. Eu acredito que com os ensinamentos do passado, possamos melhor nos preparar para as incertezas do amanhã.
Espero que vocês usem estas palavras que eu apresento agora de uma boa forma. Usem-nas para ensinar a seus filhos sobre a forma de como a vida dos nativos deste país se desenvolveu. Usem-nas para redirecionar sua vida com os princípios de viver em harmonia com o mundo natural.
Gostaria de lhes contar como o homem foi criado na Terra. Este ensinamento foi transmitido de boca em boca, de geração em geração pelos meus antepassados. Às vezes os detalhes de ensinamentos como este foram gravadas em pergaminhos de bétula. (Wee-GWAS). Tenho a sorte de ser o detentor de vários destes pergaminhos.
Eles vão me ajudar a lembrar de alguns detalhes do que eu lhes apresento agora.
Quando Ahki "(a Terra) era jovem, foi dito que a Terra tinha uma família. Nee-ba-gee'-sis (a lua) é chamada de avó, e Gee'-sis (o Sol) é chamado Granfather. O criador desta família é “Gi'-tchie Ma-i-to” (Grande Espírito ou Criador).
Se diz que a Terra é uma mulher. Desta forma, entende-se que a mulher precede ao homem na Terra. Ela é chamada de Mãe Terra, pois dela vêm todas as coisas vivas. A água é o sangue da vida. Ela flui através dela, alimenta-a, e purifica-a.
Na superfície da Terra, tudo é baseado nas Quatro Direções Sagradas - Norte, Sul, Leste e Oeste. Cada uma destas direções contribui com uma parte vital do Todo da Terra. Cada uma tem capacidades físicas e poderes espirituais, assim como acontece em todas as coisas.
Quando era jovem, a Terra estava cheia de beleza.
O Criador enviou seus cantores em forma de aves para a Terra para transportar as sementes da vida para todas as Quatro Direções. Desta forma, a vida foi espalhada em toda a Terra. Na Terra o Criador deu vida ao mundo das plantas e dos insetos. Ele colocou os alados, os rastejantes, os quatro patas na terra. Todas estas partes da vida viviam em harmonia umas com as outras.
Em seguida, Gitchie Manito, pegou quatro partes da Mãe Terra e deu seu sopro a elas através de um búzio sagrado. Da união dos Quatro Elementos Sagrados e seu Sopro, o homem foi criado.
Diz-se que Gitchie Manito, então, baixou o homem à terra, e assim, o homem foi a última forma de vida para ser colocado sobre a Ela.
Deste Homem Original nasceu a língua Ojibway. Se você quebrar a palavra Anishinabe, isso é o que significa:ANI – De onde Nishina- foi baixado ABE – o macho (o masculino) das espécies

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Este homem foi criado à imagem de Gitchie Manito. Ele era parte da Mãe Terra. Ele morava em fraternidade com tudo que havia em torno dele.
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Todas as tribos vêm deste homem original. Os Ojibway são uma tribo por causa da maneira de como eles falam. Acreditamos que são nee-kon'-nis-ug '(irmãos) de todas as tribos. Estamos separados apenas por nossa língua ou idioma.
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Hoje os Ojibways prezam os Búzios como uma Concha Sagrada, pois foi através deles que o Criador deu o seu sopro. O Búzio Sagrado apareceu para os Ojibway durante toda a sua história para lhes mostrar o caminho que o Criador queria que eles seguissem. Alguns índios Ojibway usam um búzio para lembrar a origem do homem e da história de seu povo.
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Há poucas pessoas em cada uma das tribos que sobreviveram e que mantiveram os seus ensinamentos, linguagem e cerimônias religiosas vivos. Embora as tradições possam variar de tribo para tribo, há um fio comum que permeia todas elas. Esse fio condutor comum representa uma seqüência de vidas que se remota ao Homem Original.
Hoje, precisamos usar esse parentesco de todos os povos indígenas para dar a força necessária para mantermos nossas tradições vivas. Nenhum caminho é melhor que o outro. Ouvi vários avós dizerem que existem muitos caminhos para o Alto. Nós precisamos nos apoiar uns aos outros, respeitando e honrando as “muitas estradas" de todas as tribos. Os ensinamentos de uma tribo irá lançar luz sobre os de outra.
É importante que saibamos a nossa língua nativa, os nossos ensinamentos e nossas cerimônias de modo que sejamos capazes de passar esta forma sagrada de vida para as nossas crianças e continuar o fio da vida da qual somos uma parte viva.
Mi-gwetch '(obrigado)!